Em dias de olheiras a gente mete um batom vermelho pra disfarçar.
Dizem que as pessoas olham para a boca e esquecem os olhos.
Dizem as pessoas porque comigo é olho no olho.
Sempre olho os risquinhos da pupila alheia e vou contando mentalmente enquanto finjo que presto atenção na conversa fiada.
Pra quem duvida é só perguntar para os mais próximos sabem que cheiro de olho, risquinhos do lábio e dos olhos pra mim tem muito valor.
Tem uma frase que eu amo que diz que “dias memoráveis merecem batom vermelho”, sempre levei a risca a recomendação.
Com a pandemia um tempo sem batons… e dias memoráveis passaram sem o vermelho.
E os dias simples também não seriam memoráveis?
A angústia, incerteza e banalidade do cotidiano se escondem atrás do batom vermelho.
E dos olhos? Será que se esconde?
Cor não deveria ser pra disfarçar e sim para escancarar.
E se no fundo a cor fosse pra arrombar o que tenta se esconder?!
Pira errada diriam eles, ou conversa sem meio nem fim.
Fragilidade exposta como era na música. Nem sempre quando estiver com ele, digo o batom – é disfarce.
Às vezes é só pra combinar com o look mesmo ou quem sabe, estou vivendo um dia memorável.
O batom não conta mas os olhos sim.
Ticiana Oliveira 03 de maio de 2022